Vários Locais: Ilha de São Miguel / Ilha Terceira
Curadoria: KWY (Ricardo Gomes com Gabriela Raposo e Miguel Mesquita)
Ao considerar uma relação de complementaridade disciplinar na leitura dos territórios e paisagens de intervenção, a nossa proposta procura promover uma abordagem que não se restrinja exclusivamente ao contexto urbano. Desta forma, a nossa aproximação a uma ideia de curadoria contempla a localização das obras no contexto de um itinerário local de intervenções na cidade e na periferia, procurando que as mesmas possam enquadrar, integrar e enriquecer socialmente cenários existentes.
No contexto de operar num território de características únicas e muito específicas impôs-se questionar elementos caracterizadores tanto a nível de paisagem como de património cultural ou edificado.
Identificámos três tipologias espaciais sujeitas a intervenção: a praça, como um vazio ou espaço aberto integrado no tecido urbano, que inclua o símbolo de pólo agregador, representativa de um local de partilha social e de conhecimento; o jardim como um elemento onde, no vazio da cidade, é integrada uma ideia de natureza, procurando-se questionar a sua pertinência e contemporaneidade enquanto equipamento do século XXI; por último a paisagem como o reflexo da relação territorial insular com a natureza e com o mar, promovendo uma perspectiva onde, devido à inevitabilidade geográfica de uma ilha, seja explorada a ideia de perímetro e de percurso.
Simultaneamente analisámos categorias de intervenção que nos permitissem identificar modos de actuação que possam resultar em ideias de espaço distintas: artistas que potenciem um discurso crítico sobre situações espaciais específicas e que nos permitam construir uma ideia de promenade urbana ou territorial que introduz ao observador ou participante uma reinvenção de lugares ou costumes. Na proximidade imediata das intervenções, na relação que estas estabelecem com a sua envolvente, mas também no espaço de mediação que existe entre um trabalho e o outro. Como se a área de influência de cada obra se queira alargar e intersectar com as suas adjacentes promovendo leituras complementares: sobre a problemática curatorial, da abordagem do artista à situação encontrada e como ferramentas de análise empírica do património e do território.
A nossa selecção deu primazia a artistas capazes de articular o seu trabalho com os contextos históricos, económicos e sociais que nos interessa abordar, mas também pela capacidade de utilizar materiais e técnicas locais adequadas e disponíveis. A área comum de reflexão é o espaço enquanto resultado de intervenções que apelam a um sentido de uma obra de arte total. Identificámos uma sensibilidade na integração do seu trabalho através da matéria com que o fazem, do lugar a que passarão a pertencer ou onde, simplesmente, a acontecer.
Seja interior ou exterior, contentor ou intervenção – uma construção espacial através da arquitetura ou da arte, ou de uma prática que se situa num campo de complementaridade disciplinar. Obras atentas a uma paisagem física, social e humana. A matéria como meio de comunicação e de reflexão sobre espacialidade, e também de imaterialidade, que contempla a dialética de como através do fazer, o espaço acontece.
O Circuito Ilha 2017 teve o apoio da Merrell Portugal