São Miguel, vários locais
EXPEDIÇÃO:EMPATIA
The Decorators
Curadores
Muitas das descrições estrangeiras
dos Açores foram escritas no
contexto de expedições, por mentes
racionalistas em sintonia com o espírito
do Iluminismo, no século XIX. Elas
classificam e categorizam plantas,
animais, paisagens e pessoas das
ilhas. Mas nem todas as dimensões
podem ser medidas por sistemas
racionais. As propriedades magnéticas
das rochas, os tremores de terra,
a ascensão iminente da lava, são
eventos que desafiam escalas lógicas,
ocorrências que dificilmente podem
ser previstas ou adequadamente
medidas. Elas escapam-se aos
sistemas racionais de pensamento.
A nossa expedição, ao contrário
das do século XIX, interessa-se por
fenómenos imensuráveis, irracionais e
ininteligíveis. Tomando uma abordagem
baseada na empatia, ela quer fundir-se
em vez de medir, personificar em vez de
classificar, viver e não explicar. Incorpora
a ilha e produz experiência no terreno,
em colaboração com as pessoas e
as paisagens. Uma série de obras
produzidas por artistas e arquitetos
povoam a ilha e convidam os visitantes
a explorar dimensões desconhecidas da
geologia, digestão, tempo e distância.
O pensamento racional que veio a
dominar o mundo desde o Iluminismo, é
hoje reconhecido como profundamente
ligado aos processos globais de
industrialização e, consequentemente,
à crise ecológica que vivemos.
Inspirados no posicionamento dos
seres naturais de Michel Serres
como entidades com direitos legais,
numa época em que o sublime não
é possível porque não podemos
vigiar a natureza de uma posição
distante de segurança (Bruno Latour),
aproveitamos para fazer uma expedição
que reflete o nosso relacionamento
frágil e misterioso com a natureza.