Residências Artísticas
Untitled (How Does It Feel)
Solmar Avenida Center
4ª Andar
Ponta Delgada
Curadoria de João Mourão & Luis Silva
Com: Amalia Pica, André Romão, Anna Franceschini, Bruno Pacheco, Diogo Evangelista, Joana Escoval, Jonathas de Andrade, Luís Lázaro Matos
Pensar sobre uma exposição é pensar através de um problema. Encontrar respostas ou, caso as respostas não possam ser encontradas, tentar lidar da melhor forma com o dito problema. O que não tem solução já está solucionado, diriam algumas pessoas. Esta exposição, ainda sem título (títulos podem ser objectos de desejo tanto quanto os objectos físicos ou as imagens são), junta uma selecção de trabalhos que possuem em si mesmos as chaves para a sua própria descodificação. São claros e articulados na forma como engajam com quem esteja diante deles. Isto, contudo, não significa que sejam simples, ou de fácil compreensão. É exactamente o contrário. São complexos e ricos em subtilezas e nuances.
Localizada num centro comercial em Ponta Delgada, o espaço expositivo constitui o primeiro passo na compreensão do problema com que nos deparamos. Um complexo imobiliário dos anos 70, à beira-mar, composto por duas torres residenciais e o centro comercial acima do qual estamos a instalar a exposição. A sua escala está deslocada, é demasiado grande, demasiado alta para Ponta Delgada. Estes projectos são comuns em
todo o país. A maioria das cidades possui um. Encarnam um certo zeitgeist e sinalizam muito explicitamente um desejo específico, um desejo que fala de abandonar a ruralidade a favor da vida da cidade e do consumismo como estilo de vida. Simbolizam um alinhamento com a vida moderna "real", ou a sua percepção, através de um dispositivo de produção de desejo. Querer, necessitar, desejar. O espaço expositivo está abandonado há anos, depois de ter sido um ginásio, um espaço de escritórios, e sabe-se lá mais o quê. Até agora serviu como armazém improvisado para o centro comercial. O desejo que alimenta o desenvolvimento não foi capaz de desencadear o uso do espaço. Ou foi?
A exposição gira em torno de todas estas condições, pensando sobre ideias de ver como desejar, bem como o estatuto das imagens e objetos como dispositivos que produzem desejo, qualquer que seja a forma que esse desejo tome: possuir, amar, luxúria, saudade, esperança, etc. Os trabalhos apresentados têm em comum a sua vontade de ser olhados. Cada um deles anseia por ser o objecto de desejo do olhar dos visitantes.