No âmbito da exposição Corpos Magmáticos, esta sessão de cinema na Universidade dos Açores irá apresentar quatro curtas metragens selecionadas pelas artistas e curadora Joana Albuquerque, Isabel Medeiros, Sofia Sousa e Marta Espiridião, de forma a expandir o diálogo sobre os temas abordados pela exposição.
Flores, Jorge Jácome
(2017, 27")
Perante um cenário de crise natural nos Açores provocada por uma incontrolável praga de hortênsias, a população açoriana vê-se forçada a abandonar as ilhas. Dois jovens soldados, sequestrados pela beleza da paisagem, guiam-nos pelas narrativas dos que partiram e o inerente desejo de resistirem, ficando. Através desta deambulação, o filme assume uma reflexão nostálgica e política sobre território e identidade, bem como sobre o papel que assumimos nos lugares aos quais pertencemos.
Deep Sea Rising, Diogo da Cruz & Fallon Mayanja
(2022, 31")
Depois do Atlantic Research Centre ter sido comprado por uma empresa de mineração, a bióloga Nadia Eckel retorna aos Açores. Desta vez, com uma tarefa muito clara: apresentar um relatório que confirme a resiliência da biosfera do fundo do mar, permitindo o progresso da mineração em águas profundas. No entanto, durante a análise de diferentes amostras de água, tanto do fundo do oceano quanto de outros ambientes da ilha, Eckel inicia um diálogo com uma forma de vida desconhecida. Recuando centenas de anos, Carlota e Aidan falam sobre a travessia que as levou à ilha durante uma caminhada no final da tarde. À medida que a conversa se desenrola, fica claro que Aidan vive além da escala de tempo humana e reaparece em diferentes formas ao longo da história, inclusive após a extinção da espécie humana. Por meio de perspectivas microscópicas e macroscópicas do ambiente vulcânico da ilha, o filme convida a refletir sobre a onipresença da água e a olhar para o Atlântico não apenas como o local de origem da vida, mas também como um recipiente de memória, uma testemunha dos crimes coloniais cometidos pelos países europeus.
Uma Ideia, Sara Massa
(2024, 1”32’)
"Em pequena olhava para o trator do meu pai e imaginava-me a conduzi-lo. Com vinte e dois anos aprendi, e ao fim de tantos anos percebi a razão desta vontade. O que para muitos é estranho e incomum, para mim é a criação de um novo conceito e a desmistificação de outro. Uma Ideia é sobre muitas ideias, entre as muitas, reformular a mulher. Não é combater o preconceito, é criar o conceito. As ideias que nunca viram luz são todas as que podiam fazer parte desse novo conceito."
A Year Without Summer, Gosia Trajkowska & Agata Lech
(2020, 10”)
A Year Without Summer é uma exploração poética da erupção do Monte Tambora em 1815 e das consequências globais que se seguiram. O filme anestesia a catástrofe global do chamado "ano sem verão" para lidar com o medo que nos acompanha há muito tempo: o medo do fim do mundo. Esta obra desenrola-se como um delírio onírico — um sonho partilhado onde pensamentos convergem durante uma viagem solitária de autocarro para casa. É uma narrativa construída a partir das migalhas acidentais que caem sobre o cimento. Quando iluminadas pelo sol, pareciam partículas cósmicas. (O filme utiliza fragmentos do artigo de Natalia Waloch intitulado A Whole Year Without Summer. How the Eruption of Mount Tambora Affected Humanity, Gazeta Wyborcza, 2017)
*a ordem de apresentação dos filmes poderá ser alterada