A primeira edição do Prémio nova vaga seleccionou três artistas provenientes ou habitantes de qualquer das ilhas do arquipélago açoriano para apoiar a produção de novas obras a serem expostas em Ponta Delgada: Isabel Medeiros (São Miguel, Joana Albuquerque (São Miguel) e Sofia Rocha (Terceira).
Fruto de um trabalho prolongado no tempo e no espaço, de encontros e trocas entre a proximidade e a distância, a exposição corpos magmáticos apresenta os resultados de todos os processos, individuais e colectivos, que procuraram pensar as ilhas açorianas como lugar de des/pertença, de continuidade entre natureza e humanidade, de relações específicas entre lugar e corpo. Uma residência conjunta em São Miguel levou artistas e curadora a lugares onde diferentes relações são estabelecidas entre habitantes e habitáculo: lugares de repouso entre o sol e a água do mar; locais de vigorosa extração geológica de inúmeras finalidades; interstícios entre a rigidez da pedra e a fluidez da água que nela rebenta; lagos de sulfúricas águas quentes que trazem à superfície os fluidos da terra que nos amaciam a pele.
Por toda a ilha explorámos como a relação do corpo com a pedra terá nascido do toque, rapidamente se transfigurando numa pulsão construtiva de seleccionar, desterrar, movimentar, recolocar, erigir (casas, muros, abrigos, locais comunitários). Partindo deste conhecimento do e pelo sistema tegumentar (conjunto de estruturas que formam o revestimento externo dos seres vivos), do que só se pode descobrir na fricção entre a pele do corpo e a pele da Terra, entendemos como segurar uma pedra ou abraçar uma rocha é momento de intimidade com o passado do lugar, onde o tempo se desdobra para emergir cristalizado no presente - simultaneamente história e vida, sentidas, experimentadas, tocadas. Se a paisagem é a pele da terra, também o corpo é paisagem que a terra esculpiu para a consciência poder habitar o mundo, e em cada pedra como em cada mão há constelações de afinidades por descobrir.