Circuito Exposições, Simultâneas
A matriz e o intervalo+info
15 - 29 julho
Carla Cabanas tem vindo a explorar temas relacionados com o arquivo, a memória e o apagamento. A artista usa com frequência fotografias resgatadas de feiras de velharias ou retiradas de contextos arquivistas e documentais.
Durante a sua residência artística no Walk&Talk 2016, Carla Cabanas ficou a conhecer o arquivo de fotografias do Instituto Cultural de Ponta Delgada. Nesta pesquisa, encontrou um conjunto de fotografias da primeira metade do séc. XX, que resultam do ato de fotografar uma fotografia. Uma prática comum à época, com múltiplas finalidades de entre as quais a de preservar a matriz, fazer montagens fotográficas ou ampliações.
Deste ímpeto de preservação da imagem, surge o projeto A Matriz e o Intervalo, no qual a artista trabalha com a história da prática fotográfica e com a especificidade do medium. Nas chapas de vidro do arquivo vemos fotografias em papel, postais, retratos e cenas da vida quotidiana, presas com pionéses em estruturas improvisadas - pedaços de madeira, peças de mobiliário, recortes de jornal ou tecido, preparadas para serem fotografadas de novo. Cabanas repete o ato de reproduzir a fotografia, mantendo no entanto os fundos improvisados, cujo fotógrafo original iria com certeza eliminar na imagem final.
Nas imagens de Carla Cabanas tornam-se aparentes as suas várias matrizes: a fotografia original (cuja matriz se terá perdido), a chapa de vidro que resulta do acto de fotografar a fotografia (a segunda matriz) e uma terceira que resulta da digitalização. As imagens apresentadas são a impressão desta última matriz, e contêm evidência das várias manobras fotográficas, realizadas em tempos diferentes. O intervalo entre a produção de cada matriz é comprimido numa única superfície, a última imagem.
Como em trabalhos anteriores, as suas imagens são compostas por camadas sobrepostas, sem distância, sem espaçamento entre si. São marcas da degradação das chapas de vidro, dos materiais fotográficos, marcas humanas, como datas ou referências obscuras. Como estratos geológicos, estas camadas dão a ver o tempo, os intervalos entre cada uma das vidas destes objetos fotográficos. A imagem arrasta consigo os vestígios das várias manobras fotográficas; cada matriz encapsula em si as antecedentes e a primeira matriz contém o referente.
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Programa Residências Artísticas - Artes Visuais
2016/2017