Muitas cidades ou países apresentam um malaise distinto. São lugares que podiam ser Portugal, de tão afundados numa dolorosa Saudade do passado, e onde cada tensão do presente é apenas a ponta de um iceberg que se explica em recuos sucessivos que podem ir até à origem das espécies, pelo menos:
- A cidade de Istambul mergulha frequentemente num estado a que os Turcos chamam Hüzün: um tipo de melancolia aguda, coletiva, que surge com a chuva e com o vento frio vindo do Leste e que tudo devora.
- O coração de Trieste parou de bater em 1914 quando para ali foram transportados os corpos dos arquiduques Austro-Húngaros, depois de terem sido assassinados em Sarajevo. Desde então a cidade portuária foi rebatizada como Tristesse.
- Desde que Gales se tornou a primeira colónia do império britânico em 1285, os Galeses experimentam um estado a que chamam Hiraeth, uma incompletude profunda que faz sentir falta de uma casa para a qual não se pode voltar.
- Na Alemanha lamenta-se o Sehnsucht, em Moscovo a Toska, em Memphis tocam-se os Blues, em Bucareste sente-se a Dor, por toda a Ex-Jugoslávia rumina-se a Jugonostalgija...
Este sentimento comum a muitas latitudes é muitas vezes apresentado como um diagnóstico, uma negação de um presente doloroso em oposição ao desejo de regressar a um passado glorioso. Pedro Penim cria assim um espetáculo que começa em 2017 e que vai retrocedendo no tempo através de um Atlas da melancolia.