É melhor admiti-lo já: o material original está a perder-se, os seus autores já se perderam, os locais transformaram-se, as pessoas não são as mesmas, tudo mudou e o que resta é a repetição dos gestos. De certa forma estes gestos privados capturados em filme, repetidos uma e outra vez por diferentes famílias e em diferentes épocas, executados de forma a encenar o acto da família propriamente dita, está a desaparecer também. Terá desaparecido também essa necessidade na atualidade com o fácil acesso registo de imagens que transportamos sempre no bolso?
Quando estamos a meio duma história, não é uma história de todo, apenas um rebuliço, e é apenas quando a contamos a outras pessoas ou a nós próprios que se transforma numa história. Famílias criam as suas próprias narrativas, histórias são transmitidas de geração em geração, e assim o passado continua vivo. Partindo da recolha de filmes 8mm e 16mm de arquivos familiares dos Açores, este projeto é estudo para um filme de família, não uma família pessoal, mas uma outra família, uma família imaginária e que já não existe.
Indagora, será um work in progress em forma de live filme onde Pedro Maia irá trabalhar a montagem, som e narrativa do filme em tempo real. Apresentado via live streaming nesta edição do festival, este processo pretende transformar a estrutura narrativa tradicional do filme de família num registo representativo duma linguagem que integra a cultura visual contemporânea, procedendo deste modo ao questionamento do próprio “valor” da imagem e da memória.