A exposição Limbo surge de uma investigação em torno dos herbários históricos que integram o espólio do Museu Carlos Machado. O imaginário de fim de século que caracteriza a lógica arquivista e o ambiente destes locais serve de motor ao trabalho desenvolvido, que se alicerça numa reflexão sobre os momentos chave do estudo da Botânica e da expansão da História Natural.
No âmbito desta pesquisa, a exposição atenta ao campo da Sinecologia, analisando o comportamentos das comunidades biológicas, ou as relações entre os indivíduos que integram diferentes espécies e o meio em que estas vivem. Assim, com base na hierarquia sociológica das plantas e no conhecimento da Taxonomia de Lineu, a intervenção problematiza o conceito de endémico, traduzido na composição de um objeto artístico que ensaia uma outra relação entre os elementos.
A intervenção cruza a pesquisa científica com a expressão dos princípios inerentes à pintura, operando sobre uma lógica de estratos que informam o universo visual do artista. O objeto constrói um ambiente onde se ensaia a recriação de uma paisagem de estudo, onde as imagens gravadas nas chapas transparentes são reproduções de ilustrações científicas. Estas imagens surgem numa sequência de camadas que respeita a importância das espécies e a harmonia do conjunto. Por outro lado, a inserção de animais taxidermizados introduz volume, cor e textura à composição, perturbando o rigor de uma leitura esquemática. A interação com um cuidado sistema de iluminação, que projeta a sombra e a dimensão das figuras, expande a composição para um campo espacial, de valor cenográfico.
A intervenção parte de uma atenção cuidada sobre a subtileza e a fragilidade de cada elemento mas, no conjunto, trabalha uma sobreposição de ordens que, simultaneamente, respeitam e subvertem a linearidade de um sistema de classificação. Trabalhando sobre a expressão que os elementos readquirem, a criação desta nova paisagem, manipulada, constrói uma ambiência que indaga a linearidade do pensamento científico e o seu sistema de classificação. Limbo reporta-se, assim, ao espaço que existe entre a exuberância da existência e a racionalização científica. Espaço que o campo artístico aborda, expande e especula.