Tomando como ponto de partida o Mito de Sísifo de Albert Camus, Madalena Correia introduz o ritmo absurdista no seu trabalho, para refletir sobre o quotidiano, as ações apressadas, inconscientes e a busca constante pelo sentido das coisas. A rotina é-nos apresentada como enfadonha e repetitiva. Desvalorizamos o trabalho físico, os movimentos simples e quotidianos do nosso corpo, por vezes realizados de forma inconsciente. Porém, para atingirmos um determinado propósito, ideologicamente possível ou não, somos levados a tentar e a tentar, vezes sem conta, com um determinado tempo e ordem. Esse propósito precisa do corpo e dos seus recursos, pequenos gestos e movimentos, repetidos dia após dia, tornados rotina e prática, até serem aperfeiçoados ao nível da mestria ou da obsessão. No Mito de Sísifo, o objetivo não é a imortalidade, mas sim o tempo e o positivismo aplicado pelo protagonista, a ação repetida e continuada, com a esperança de alcançar o impossível.
A artista associou esta reflexão, à sua rotina diária no Estúdio 13 (espaço multidisciplinar de criação e ensino artístico), com o propósito de destacar um conjunto de acontecimentos ‘absurdistas’, previamente executados, e transformá-los em movimento sem propósito. Loading, o projeto que a artista apresenta no Instituto Cultural de Ponta Delgada, consiste numa instalação vídeo, composta por cinco ecrãs que projetam, de forma sequencial e alternada, diferentes movimentos a serem executados pelo corpo. Os movimentos são repetitivos, ações em suspenso e aparentemente sem objeto ou propósito. O que seria Sísifio sem a sua pedra de mármore?