Circuito Exposições
Prefácio para um Arquipélago+info
6 - 20 julho
Durante o antigo regime centenas de presos políticos foram deportados para os Açores, levando consigo os seus livros e as suas ideias proibidas no continente. Estas pessoas funcionaram como engrenagem de um debate e discussão política que, gradualmente, foi ocorrendo entre ilhas.
Prefácio para um Arquipélago revisita este capítulo da história partindo da documentação oficial e da poesia de intervenção, produzida clandestinamente nesse período no país. Analisa-se esse tempo nos Açores a partir de literatura de resistência (até 1974) que aí chegou através dos deportados, do correio, ou que aí foi escrita, constituindo bibliotecas no presente. Em contraste a estes conteúdos, é revelada documentação acerca da vivência de permanente vigilância a que estes indivíduos estavam sujeitos.
Assente na potência da palavra escrita, em tempos onde a liberdade era clandestina, o trabalho desenterra a história nacional, através da local. A artista recupera episódios de opressão do discurso aí passados, para observar as suas repercussões no presente e questionar como as construções políticas contemporâneas introduzem os novos domínios de liberdade, e de expressão.
Maria Trabulo desenvolve um trabalho que liga a torre sineira da Câmara Municipal de Ponta Delgada a um conjunto de outros espaços da cidade. A torre acolhe sessões de leitura abertas ao público que, emitidas na rádio, propagam os textos velados no passado. A torre torna-se um lugar de encontro, liberdade e difusão que, pelas ações e objetos artísticos apresentados, inverte o seu poder de vigia e controle.Tornando-se em algo que exalta a memória e a poesia de uma cultura anteriormente marginalizada, ela indica, também, alguns dos locais que acolheram a escrita, a impressão, e a difusão de novas ideias. Ideias que a artista resgata para o presente, também, em cartazes e panfletos com frases, poemas ou excertos de publicações originais, afixados nas paredes da cidade. Estes elementos assinalam os locais que a torre indica, reposicionando-os como atuais espaços de encontro e leitura, criando uma rede de memória e discussão.
De forma inesperada, Ponta Delgada recebe a memória da transgressão, equacionando uma contracultura e a sua relação com a sociedade. Todas as ações desenvolvidas na torre e nas ruas dão corpo a um trabalho uno que interpela os indivíduos, a história, e a cidade, onde a relevância da palavra como resistência potencia um diálogo em conjunto.