O trabalho de Rita GT articula um percurso entre dois pontos importantes da cidade, ligados através de uma performance que se inicia nos Paços do Concelho e que termina no Museu Carlos Machado – Convento de Santo André.
A artista reinterpreta o formato tradicional de uma procissão, refletindo sobre o seu funcionamento, intervenientes e organização, e enaltecendo a condição feminina repensa a estrutura patriarcal que subjaz a este tipo de manifestações de carácter religioso e popular.
Neste caso, um grupo de mulheres que pertencem a uma irmandade fictícia transportam consigo um conjunto de vasos e talhas em barro, transportando-as pela cidade até as depositar num espaço museológico onde permanecem como instalação temporária.
O material (barro) e o formato (recetáculo – vaso/talha) com que estes objetos são trabalhados alicerça uma relação direta entre o que é transportado e o corpo de quem o transporta. A ideia de recetáculo assume uma forma e uma função que se liga à condição feminina, celebrando o elemento que contém e guarda o que é precioso; seja na invocação de uma perspetiva histórica, onde estes objetos preservavam os bens de sustento do lar, seja na invocação do corpo da mulher, que assume a possibilidade de conter, em si, uma nova vida. Deste modo, na dimensão simbólica que a procissão detém, o papel do poder é resgatado para uma outra esfera, matriarcal, que gera a vida e a sua subsistência.
A performance envolve vários agentes da comunidade local e desenvolve uma coreografia que é acompanhada por um registo sonoro, contendo canto e percussão, e por um registo visual, que abarca uma nova identidade, traduzida no estandarte e na indumentária utilizada.
O trabalho envolve, também, a apresentação de um vídeo no Museu Carlos Machado, onde se documenta a ação tida na construção dos objetos, em oficina de olaria, e a sua ativação, em procissão, pelas ruas da cidade.
A performance termina numa cerimónia de deposição dos vasos/talhas e restantes elementos que, na sua interação com o vídeo, define os contornos de uma instalação. A instalação surge na sequência da performance e o trabalho é pensado em múltiplas frentes, questionando o formato da obra e o lugar da sua apresentação. Entre o acontecimento e o objeto, entre a cidade e o espaço de exposição.