Andreia Santana apoia-se numa ideia de procura e observação que questiona a perceção do tempo e a lógica dos objetos, frequentemente associados a uma referência arqueológica.
O trabalho que a artista desenvolveu para o festival Walk&Talk surge de uma pesquisa efetuada no Parque Arqueológico Subaquático de Angra do Heroísmo, em contacto direto com os seus arqueólogos e mergulhadores, onde investigou o uso e a produção de novos sistemas, e novas ferramentas de trabalho.
A artista ocupa uma piscina abandonada, elevada em relação ao nível do mar, que surge como um buraco vazio. Neste cenário, que curiosamente se assemelha a um local de escavação, existe um conjunto de esculturas metálicas que aparentam emergir da superfície. As paredes são revestidas por uma camada de tinta branca e o seu pavimento é coberto por uma matéria que mimetiza uma técnica denominada Terrazo, empregue em trabalho de campo, onde se unificam os achados que ao longo do tempo ficaram inscritos no solo.
A ligação que se cria entre o contexto insular/Atlântico e a piscina desativada, assenta na presença da água e no ato de escavar que, aqui, se encontram invertidos. Na verdade, ao referir-se ao universo da arqueologia subaquática, numa construção vazia e descoberta, a artista problematiza a memória e o lugar da sua emergência.
Andreia Santana intervém, também, em duas salas anexas à piscina onde aplica um sucessão de cartazes que ocupam a totalidade das paredes existentes. De igual modo, estes cartazes articulam-se numa sobreposição de camadas e apresentam imagens do mundo aquático. Uma das salas recebe uma projeção de diapositivos que é lida como mais um estrato que se adiciona aos existentes.
Todas as imagens provêm da fase inicial do projeto e são transpostas do seu local de origem (parques subaquáticos) para o espaço expositivo, onde se encena a relação entre o objeto da escavação e o objeto escavado.
A ideia de estrato é ensaiada verticalmente, com a gravidade, no pavimento da piscina e horizontalmente, com a sobreposição de imagens, nas paredes das salas anexas. Assim, o que encontramos é um conjunto de fragmentos que pela matéria e pela imagem, personificam uma memória e estabelecem redes de afetividade. Algo que contém o potencial para uma recoleção e completude, intencionalmente impossível de se alcançar.
A intervenção problematiza a hipótese de uma presença contínua, em sucessiva reciclagem, que questiona a ideia de memória, autenticidade, autoria e apropriação, estabelecendo uma nova existência que interrompe a sucessão cronológica e o tempo linear.