Sara Bichão move-se sobretudo em torno da memória, da natureza e da corporeidade. O seu processo de trabalho liga-se a canais emocionais: curar, purgar, perpetuar, brincar. As obras são escultóricas com uma atmosfera cromática própria, por vezes ativadas pela artista através de ações performativas. Os materiais utilizados são muitas vezes recolhidos/oferecidos/roubados ou provenientes de outros recursos reciclados e orgânicos. Bichão gosta de iniciar a sua produção criativa com aventuras (que significam a concretização de um objetivo) ou com a escolha de ambientes estimulantes para enfrentar direções desconhecidas no seu trabalho. O resultado é filtrado após diferentes formas de esforço. Outra caraterística proeminente do trabalho desta artista é a presença constante de uma ideia de tradução, uma vez que as esculturas são quase sempre feitas com objetos que tiveram usos anteriores ou que carregam uma história específica desencadeada pela relação íntima da artista com eles.
Mais recentemente, Bichão tem também explorado a escrita experimental. A sua poesia expõe o modo operativo de Sara como escultora: não se trata do meio mas da viagem que ele permite. As palavras têm peso, espaço e sombra; a subjetividade é um estilo e uma intenção, evitando definir a forma, mas conduzindo a uma zona particular e multidimensional de afeto e consciência.