sessão cinema
Sessão de videoarte com FUSO INSULAR - Laboratório Imagem em Movimento 2021+info
06 nov / 19H
A vaga junta-se novamente ao FUSO INSULAR, desta vez para a apresentação de duas sessões de videoarte, resultantes do Laboratório Imagem em Movimento - um programa de residências dedicado à criação de obras em vídeo, que cruza linguagens do filme experimental, da performance, da fotografia e do cinema.
A segunda sessão inclui os projetos do Laboratório Imagem em Movimento 2021, de Carolina Rocha, Diogo Sousa, João Amado, Madalena Correia, Mariana Medeiros, Nina Medeiros, Rodrigo Mota e Sara Brum, que, sob orientação teórica de Susana de Sousa Dias e acompanhamento de André Laranjinha, propuseram ideias, criaram guiões e filmaram na ilha de São Miguel e na Terceira. Autobiográficas ou ficcionais, as obras refletem de forma crítica, mas também afetiva, as relações dos artistas com o território, sua gente e costumes.
Mais sobre os projetos de videoarte:
ÀS PALMAS DAS MÃOS NÃO SE MENTE, Sara Brum, 2021, 7’
Como sobreviver à nostalgia, à ausência na terra isolada?
Só entrando no corpo, abrindo espaço.
SEM NOME, Madalena Correia, 2021, 5’55’’
A partir do texto a Alegoria da Caverna de Platão, surge a ideia para este trabalho. Relacionando este texto com uma sociedade opressora (“aquilo ou aquele que impõe força sobre o mais fraco, que causa opressão”), e a comunidade LGBTQIA+ que ainda se sente oprimida e sofre constantemente de preconceito, decidi articular a ideia da caverna com o género não-binário (“que abarca várias identidades diferentes dentro de si”). Este trabalho recria a parede da caverna, onde “as pessoas caminham por detrás da parede de modo que os seus corpos não projetam sombras, mas sim os objetos que carregam”, onde o prisioneiro da sociedade acredita que a sombra é a sua realidade, não existindo outra. Uma realidade opressora, destrutiva, padronizada e preconceituosa.
NASCI NA FOZ E MORRI NA NASCENTE, Rodrigo Mota, 2021, 9’45’’
A água que outrora corria nas ribeiras deixou cicatrizes permanentes na terra. Cicatrizes essas que formaram caminhos de todas as formas. Este filme é uma peregrinação, começando na foz de uma ribeira seca e continuando por este corpo desprovido da sua alma.
CORRENTE, Carolina Rocha, 2021, 4’51’’
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
(...)
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo! Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto, rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento a todos os perfumes de óleos e calores e carvões
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!
Excertos do poema Ode Triunfal, Álvaro de Campos
Junho, 1914
GONE GONE, Diogo Sousa, 2021, 8’
Dois fragmentos divididos em dois actos pouco descritivos contrastam anacronicamente. Primeiro um pequeno desespero ilustrativo da condição humana em relação à paisagem. Segundo uma conversa “semi-monólogo” sobre o cinema, pão e um corpo de trabalho.
KAKOPHONÍA, Nina Medeiros, 2021, 4’22’’
O que é lembrado sobrevive.
Partindo de um acorde em ré menor, a narrativa desdobra-se numa linha sequencial entre uma memória distante que se afasta com o passar do tempo. As pessoas, os objetos, os espaços e os enquadramentos espaciais que se mostram no filme estimulam o ato de recordar e estabelecem um argumento nostálgico, mas nonsense a partir da cumplicidade entre a imagem e o som.
Projeta-se uma kakophonía estridente que procura justificações. Ou não.
UM MELÃO NUMA NOITE DE VERÃO, João Amado, 2021, 8’59’’
Não há nada melhor do que uma fruta certa para o momento adequado.
A VACA QUE SE PERDEU DO RESTO DA MANADA, Mariana Medeiros, 2021, 3’20’’
As vacas movem-se devagar porque são pesadas. Aprecio a forma como movem os ossos das ancas quando andam pelas estradas, e como te olham nos olhos, sem se desviarem. Tu passas devagar também, quase pedindo desculpa por interromperes a sua travessia. Nunca apites; podem perder o leite. Quando cheguei perto da vaca percebi que ela se transformava numa nuvem, e depois a forma indefinida deu lugar a um corpo de mulher, a mulher-anjo. Estamos frente a frente, sinto o seu cheiro e respiração. Olhamo-nos nos olhos, abraço-a com força e sinto o nosso corpo a derreter, a transformar-se num líquido brilhante que se espalha pelo chão. Olho para o céu e vejo a luz que ilumina o monte. É por isso que eu estou aqui.