"Começámos esta Nova Criação a formar arquivo, confiando que se captássemos o que fazíamos, poderíamos olhar para o que já aconteceu e assim, tentando não perder o fio à meada, procurar pistas que nos informassem sobre o que poderíamos construir para a frente. A cada nova dança a dois gravámos e projectámos na parede de fundo a filmagem da vez anterior. A partir daqui desenvolvemos um dispositivo cénico que é uma possível materialização do movimento de ida do agora para o passado e para o futuro. Uma mise en abyme ou túnel temporal, que permite ver o que se repete e o que varia, revelando o caminho de construção desta peça.
O curioso é que, entusiasmados a responder ao processo, exageramos, e quanto mais nos filmamos, mais nos reproduzimos e mais nos desmultiplicamos, correndo o risco de confundir imagem e realidade. Filmar é tentar sobreviver, mas é também mostrar uma morte. Daí surge a necessidade de reformulação constante, porque precisamos sempre de continuar. Não é?"