O trabalho de Luísa Salvador relaciona-se com a passagem do tempo e com a concepção de Tempo como matéria que transcende as coordenadas humanas e históricas. O tempo enquanto construtor de paisagens é onde a sua investigação se baseia, numa prática artística interdisciplinar que se traduz em desenho, instalação e produção escrita.

Semelhança por contacto aborda a geologia da ilha de São Miguel, nos Açores, refletindo sobre a concepção do tempo geológico insular, um tempo que é pré e pós-histórico. Neste projecto, a artista explora os fósseis vulcânicos provenientes de condições inerentes à pulsação ígnea. Os poucos exemplares que existem são de espécies botânicas que nos informam da flora existente nas ilhas muito antes da Povoação. Têm a aparência de cinzas aglomeradas e endurecidas pelo tempo (e é isso mesmo que são). Foram cinzas incandescentes que se entranharam nos veios de folhas e troncos de árvores milenares e que, num processo de substituição, guardaram informação residual. Para este projeto, Luísa Salvador recolheu centenas de folhas de espécies botânicas no Parque Terra Nostra. Num gesto inverso, imprime estas folhas em matéria cerâmica que, depois de cozida e vidrada, é devolvida à paisagem sob a forma de pequenas esculturas. Pretende-se que estes registos de espécies, existentes na ilha hoje, sejam descobertos num futuro mais ou menos próximo.